SXSW 2018: Com carisma e sem falar inglês, criadora de moeda social rouba a cena em painel da Natura


Ivoneide Vale, que comanda banco comunitário da Amazônia, foi de coadjuvante a protagonista em evento que falava sobre a empresa brasileira
POR ADRIANO LIRA, DE AUSTIN (EUA)

South by Southwest, evento de tecnologia, inovação e economia criativa que ocorre em Austin, teve uma protagonista inesperada em uma de suas atividades. Nesta segunda-feira (13/3), a Natura realizou um painel em que falou sobre como uma companhia pode ser uma empresa B, ou seja, ter a resolução de problemas socioambientais como compromisso.

Em uma audiência predominantemente brasileira, no entanto, quem se destacou foi uma empreendedora que, pelo menos na teoria, participaria do evento como uma coadjuvante. Ela é Ivoneide Vale, uma consultora da Natura que comanda o Instituto Banco Tupinambá, um banco comunitário que oferece crédito para os moradores da Baía do Sol, um bairro de Belém (PA).



Ivoneide é consultora da Natura há três décadas. O dinheiro que ganhou com os produtos de beleza ajudava a compor a renda familiar. Mas uma insatisfação fez com que ela resolvesse criar um outro projeto. “A Baía do Sol tem cerca de 7 mil moradores. As pessoas no geral até têm condições boas de vida, mas o dinheiro que elas ganhavam não ficava na região e não ajudava no nosso desenvolvimento”, diz.

Em 2009, buscando mudar esse cenário, Ivoneide abriu o Instituto Banco Tupinambá. É um banco comunitário, entidade que tem como objetivo o desenvolvimento de uma região. Para isso, a instituição normalmente cede microcrédito a preços menores e tem uma moeda local, aceita apenas na comunidade do banco, que oferece descontos para quem a usa. No caso do Tupinambá, a moeda se chama moqueio. “Esse era o nome de um técnica que os indígenas usavam para fazer a carne ser conservada por mais tempo. Com o banco, queremos que a nossa comunidade também dure por muito tempo.”

Nos primeiros anos da empreitada, Ivoneide colocava no banco todo o dinheiro que conseguia vendendo os produtos de beleza, a fim de que o projeto tivesse mais força.

Mas o banco começou a ganhar mais tração em 2012, quando a empreendedora foi a grande vencedora do Prêmio Acolher. A iniciativa, realizada pela Natura, premia consultoras que trabalham em projetos sociais. “Naquela época, ganhei R$ 15 mil. Coloquei todo o dinheiro no banco Tupinambá, que começou a crescer mais rapidamente. Além disso, ganhar um prêmio da Natura me abriu portas e me ajudou a fazer contatos valiosos para o negócio”, diz.

Desde que o Tupinambá foi aberto, já foram concedidos quase 1,4 mil empréstimos com o objetivo de ajudar a comunidade a abrir e ampliar seus negócios. No total, foram dados R$ 1,5 milhão em benefícios para moradores da Baía do Sol.

Além disso, o banco cedeu crédito para que as pessoas fizessem compras para nos supermercados. Neste caso, as pessoas recebem moqueios, que só são aceitos nos negócios do bairro. Essa mobilidade já emprestou R$ 206 mil à comunidade – a cotação real-moqueio é de um para um.

Por não falar inglês, durante sua apresentação, Ivoneide foi auxiliada por um intérprete, que traduzia tudo que era dito no painel. No entanto, apesar da falta de conhecimentos do idioma, Ivoneide foi a participante mais aplaudida do evento.

Além da “banqueira cooperativa”, participaram da conversa Andréa Alvares, vice-presidente de marketing e inovação da Natura; Khalea Underwood, da Refinery 29, produtora de conteúdo focada em mulheres jovens; e Kim Coupounas, diretora do B Lab, entidade que certifica empresas B em todo o mundo.

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