Na pequena localidade da Baía do Sol, na ilha do Mosqueiro, se
desenvolve uma das mais consistentes (e premiadas) iniciativas no campo da
economia colaborativa ou solidária na Amazônia. Trata-se das ações desenvolvidas
pelo Banco Comunitário “Tupinambá”. Mas não se trata de um Banco qualquer. O
Banco Tupinambá tem como principal missão fortalecer a economia local e ajudar
a fomentar laços de reciprocidade e cooperação entre os agentes locais. Os
principais instrumentos utilizados pelo Banco Tupinambá para alcançar esses
objetivos são as operações de Microcrédito, por um lado, e a disseminação do
uso da Moeda Social, denominada “moqueio”, por outro.
As operações de Microcrédito buscam desenvolver as atividades
econômicas de pequeno a
médio porte, oferecendo crédito de valor limitado, mas que são
essenciais como capital de giro ou micro investimentos. No caso da Moeda
social, a sua disseminação se restringe ao território da Baía do Sol e aos
usuários do Banco, sobretudo famílias. O seu objetivo é estimular o consumo de
produtos e serviços oferecidos no âmbito da economia local. Dessa forma, o
principio do uso da moeda social é internalizar a renda e estimular trocas e
relações entre os próprios agentes da economia local.
Para poder aferir de forma mais objetiva os impactos das ações do
Banco Tupinambá no âmbito da economia local da Baía do Sol, um grupo de 25
estudantes e professores do curso de Economia da UFPA realizaram um levantamento
com aplicação de questionários neste final de semana na Baía do Sol, nos dias
20 e 21 de janeiro. As atividades desenvolvidas fazem parte do projeto de
extensão denominado “Economia Criativa, Cultura e Território”, coordenado pelo
professor Valcir Bispo Santos, da Faculdade de Economia (FACECON), que também
conta com a colaboração do professor Giancarlo Frabetti.
Ambos os professores acompanharam in loco o Levantamento, executado
por um grupo de estudantes da graduação e pós-graduação em Economia. Estas
atividades de extensão e pesquisa na Baía do Sol tiveram o apoio fundamental da
Pró-Reitoria de Extensão da UFPA, que cedeu o uso do micro-ônibus da
instituição para levar e trazer o grupo de estudantes e professores da FACECON.
Cabe destacar que a hospedagem do grupo da UFPA na Baía do Sol se deu por meio
de “hospedagem solidária”, em boa parte.
O questionário busca fundamentalmente aferir o nível de consumo de
produtos e serviços locais e ativação de negócios por meio da circulação da
moeda social “moqueio”. A sua metodologia foi desenvolvida pelo Instituto
Palmas, sediado em Fortaleza, que coordena a maior rede de bancos comunitários
da América do Sul. Esta pesquisa é realizada desde 2009, ano de fundação do
Banco Tupinambá. Naquele ano, constatou-se que apenas 2% dos moradores locais
compravam na localidade. Em 2014, esse número deu um salto gigantesco:
constatou-se que 83% das pessoas entrevistadas consumiam na própria localidade,
diminuindo a evasão da renda local.
Mas a experiência inovadora do Banco Tupinambá sofre riscos de
continuidade devido à insegurança e assaltos, pois também presta serviços como
agente bancário, sobretudo da Caixa Econômica Federal – CEF. Dois assaltos deixaram
sequelas e prejuízos que a CEF está cobrando com juros e sem nenhum alivio,
tratando o Banco Tupinambá como uma empresa financeira equivalente a outros
bancos comerciais. É uma situação paradoxal, pois a própria Caixa já indicou o
Banco Tupinambá para concorrer em premiações na área da tecnologia social.
Texto: Valcir Santos
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